domingo, 31 de julho de 2011

:: Carta aos suicidas

Quarto vazio e iluminado. E ela esperando o texto fazer sentido, esperando a vida fazer sentido. No resto da casa silêncio e escuro, cortados apenas pelo barulho de alguns carros e da luz tremulante vindos do lado de fora. Tudo o que ela queria era acreditar, mas às vezes essa é uma missão difícil pra quem perdeu tudo. Ter fé no amanhã e acreditar, no invisível e intocável do futuro, é uma tarefa doída quando não se tem nada. A cabeça dela está voltada pro passado e todos esperam que a cabeça dela esteja voltada para o presente e todos pedem que ela continue firme olhando pra frente. Mas ela tá cansada de levar sorriso fingido no rosto, cansada de esticar as mãos e não se agarrar em nada. Não adianta o quanto se esteja subindo, não há vitória no caminho que se percorre sozinho é o que ela acha. Cercada de pessoas e rostos familiares, e ela ali, sentindo-se presa aquela multidão de coisas sem sentido. Ela procura um único rosto, mas não encontra. Não há saída ou outra porta de entrada, só o vazio de uma sala cheia. Ela agora entende os suicidas, viver assim também mata.

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