quinta-feira, 24 de novembro de 2011

:: E fim

Eu passei um tempo longe de mim, longe daquela casa quentinha que a gente leva dentro da gente. Eu me afastei tanto da estrada do coração que por muito tempo eu esqueci como voltava. Eu me esforcei tanto pra cada coisa pequena caber no espaço grande do coração que levo, que só depois eu percebi que não se encaixava justamente por ser pequeno. Eu chorei durante tantas noites com o coração apertado por sentir e me sentir culpada. Eu agarrei as minhas pernas com tanta força, na tentativa errada de me prender as suas. Quantas noites eu procurei as suas mãos mas não encontrei. Quantas noites eu te busquei em silêncio sem nem você saber. Depois de tanto tempo eu olho pra trás e percebo meu sorriso naquela época: amarelo, congelado no tempo como numa fotografia velha em preto e branco. Me agarrando às cores que você me deu pra tentar pintar algo bonito pra gente. Mas não se faz aquarela de tintas escuras e imagens borradas. É o princípio das coisas: é preciso de vida para algo viver. E assim você morreu, ou eu… porque quando acabou, algo em mim também se foi. Eu não era feliz, eu sei disso, eu sei. E durante muito tempo me vesti de cores e poses que não eram minhas só pra poder te ter por perto. Até agora.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

:: Catarse

Me rotule! É o que as pessoas gostam de fazer. Rotular as coisas e as pessoas como se tudo aqui já tivesse sido criado, com nome e forma, sombra e verso, mesmo a gente se deparando com o milagre do novo a cada instante.

Então eu sou mesmo uma louca, uma desesperada. Ansiando pelo frêmito nos cabelos e o espasmo em cada músculo, a cada risada. Meu corpo procurando pelo movimento, se encaixando de incoerências e contradições, na busca voraz de sensações vividas pela ponta dos dedos e do arrepio dos pelos.

É que eu nunca fui boa nessa coisa de me esconder, de me conter, de embrulhar a vida e guardar pra depois. E pra quê? E pra quem, se não for pra mim?

Minha alma é excesso, explosão, é um vendaval que não se anunciou.

Sentir a beleza dos encontros, dos acasos, dos impactos, dos choques entre os seres quando se esbarram, é o que agora me faz feliz, ainda que essa não seja a minha maior crença.

É nessa hora que você vira e me pergunta: ”Inferno! Então no que é que você acredita?”

Eu acredito tão mais num coração pulsante...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

:: Texto inacabado

Como em tantas outras noites, acordei com um texto na cabeça, a diferença dessa vez é que tinha você aqui, dormindo comigo pela segunda vez. Tentei levantar sem fazer barulho, acendendo o abajur do criado mudo pra começar a escrever na minha velha poltrona agora com cara de nova. Mas não adiantou meu esforço de pés de formiguinhas porque você acordou com a luz acesa do outro lado da cama e me olhou com a cara amassada mais linda que eu já conheci, me olhando com aquele olhar de quem não tava entendendo nada. Virando todo desajeitado pro pé da cama, só pra poder me tocar enquanto você mais dormia do que acordava. E eu disse pra você – “volta a dormir amor” te dando um beijo no seu olho com cara de mau, porque seu olho com cara de bonzinho tava esmagado debaixo do seu braço esquerdo que te servia de travesseiro nessa hora. E depois que você se convenceu de que não ia me tirar da poltrona ou porque simplesmente apagou mesmo, eu fui me dar conta no que tinha acabado de te falar. E aí o texto tão forte que tinha me tirado da cama do seu lado, desapareceu no meio de tantos outros textos inacabados no meu caderno de rascunhos e eu comecei a escrever sobre você pela primeira vez. E não foi por falta de sentir, de desejar escrever algo de bonito pra você, depois de tanto texto idiota escrito pra tanta gente imbecil. Porque é mais fácil ser triste amor. E eu antes escrevia por ser triste, por ler tristeza nas minhas linhas e nos rostos mal iluminados das pessoas ao meu redor. E eu me alimentava disso sem nem sequer perceber. Só que eu agora escrevo por ser feliz e por mais que alguém me conte uma história infeliz e eu tente passar isso pro papel, eu não tenho conseguido mais. Talvez eu te mostre esse texto um dia, talvez eu não te mostre jamais. Mas acontece que pessoa paranóica como eu, que sempre odiei essas generalizações no amor, de chamar o outro de “mô, benzinho, amore” e por aí vai, sempre inventei nomes diferentes pra chamar cada namorado, por achar desleal uma pessoa especial ser chamada igual a outra, chamei você de amor. Coisas tão comuns que os casais falam há séculos por aí. E aí uma pessoa dessas poderia dizer que dessa vez foi mais sincero, que dessa vez foi diferente pra alguém tentar acreditar, quem sabe ela mesma. Mas eu, que nunca tive problemas pra me relacionar, mas que ao mesmo tempo nunca acreditei no amor, nunca tinha dito isso pra ninguém, nunca tinha sentido isso por ninguém. E você nem sabe como eu me sinto perto de você, de como eu prendo a minha respiração quando a gente se perde no tempo se olhando, aí, só depois, eu lembro que eu posso respirar e te olhar ao mesmo tempo. Ou de como eu adoro me jogar nas suas costas largas e me sentir pequena e protegida ao mesmo tempo. De todas as vezes que a gente faz amor e é diferente. De como eu adoro deitar sobre seu peito e sentir seu coração bater , ou de como ele e seu corpo reagem aos meus carinhos ou gestos mais safados. To falando dessa total entrega, que tanta gente busca, e tão poucas tem. Que a gente desacredita que exista com o tempo por nunca ter encontrado também. Talvez seja injustiça não te mostrar isso tudo e me abrir assim, pra tanta gente que nem ao menos sabe quem eu sou. Que não faz a mínima idéia de que eu converso no telefone rabiscando a perna, que eu passei anos da minha vida não dando meus ursinhos de pelúcia porque achava que eles ficariam magoados comigo, que eu gosto do meu leite com duas colheres cheias de Nescau e que apesar de ter medo de escuro, só durmo sem a luz estar acesa. De como sou uma manteiga derretida, mas sempre faço cara de que “tá tudo bem“, da forma como eu internalizo as coisas ou do jeito como eu não sei pedir ajuda pra ninguém. E você que tem participado de tanta coisa, te deixo de fora. Mas a opção de me olhar lá no fundo dos olhos e de se enxergar, só você tem. Eu, que já escrevi tantas histórias em primeira pessoa que nem eram minhas, te digo amor: esse texto é seu, é nosso e não tem conclusão porque não tem fim.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

:: Do amor e outras coisas

Há coisas que não precisam ser ditas, mas mesmo assim é preciso saber com o coração, que lá no fundo, por mais que a gente saiba e os gestos contem, ouvir de quem se ama que se ama, nunca é demais. Não deixar lacuna nos dias, nas ações e nos diálogos, não deveria ser algo que a gente aprende, aceite e passe a conviver. Tem tanta gente melhor do que solidão a dois machucada. A gente deveria perder o medo de viver com a gente mesmo desde cedo, mas parece que a gente só aprende depois de levar tanta rasteira da vida. Brigas e desentendimentos fazem parte de qualquer crescimento de uma relação, a gente briga com a gente mesmo a toda hora, por querer se desprender de tanta amarra que se leva no peito, que dirá com outra pessoa que teve experiências tão diferentes das nossas. O que não pode e não se deve aceitar é essa parte ser maior do que os dois juntos. É preciso ter espaço pra sentir, ser, crescer, mas sempre em liberdade, que é pra não arranhar. Como toda plantinha que precisa de cuidado todo dia, mas se você um dia não aumenta o vasinho com a terra que ela precisa, um dia ela para de crescer. E eu vejo tanta história de relação morrer assim todos os dias... E histórias de gente apressada que quer transformar semente em árvores. Nada cresce assim, a natureza tem seu tempo assim como o coração da gente. E quando uma história não vai bem, não significa que todas as outras que viver serão assim. Mas é preciso vigiar o coração pra não repetir padrões. E é preciso de tempo, muito tempo. Um coração ferido, não ama, não se entrega, não vê beleza onde quer que olhe, tudo dói e tudo pesa. Aí depois a gente fica se perguntando porque não deu certo. Uma vez li que não existe a pessoa certa e sim, a hora e o momento certo, quando li isso pela primeira vez discordei, achei absurdo e fiquei revoltada. Tão longe do sonho romântico que a gente carrega desde menina, com histórias de príncipes encantados prometidos e Cinderelas em carruagem com cavalos brancos. Mas quando li pela segunda vez eu entendi: há momentos na nossa vida que não estamos preparados pra receber, nem dar, amor. Quantas pessoas realmente legais já passaram por nós e nós nem enxergamos; quantas vezes a gente já olhou escondido pro passado e se perguntou o que teria acontecido se tivesse dado tal chance a tal pessoa; quantas relações seriam diferentes em épocas diferentes, com idades e maturidades diferentes... Quanto mais eu cresço eu vejo que estar com a pessoa certa tem mais a ver com o momento certo do que propriamente com ela. Eu sei, eu sei... é difícil aceitar isso e se desfazer dos sonhos e de papéis encantados que um outro ser humano exerce na gente. Mas se desfazer das desilusões é encontrar o caminho mais cedo para a felicidade. Que assim o encontro - que todos nós levamos secretamente lá no fundo, de almas perfeitas e gêmeas que se encontram e se encaixam desde o primeiro olhar - possa ser mais verdadeiro e mais justo com o outro e com a gente mesmo. Pra que aí sim, o encontro possa ser inteiro.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

:: Totalmente dedicado

Era nosso segundo encontro. Eu estava ansiosa para vê-lo de novo. E me encontrar naqueles olhos infinitos quando olhavam pra mim. E fui andando assim, na direção dele, com calma e o coração pulsante. E perguntei meio sem graça se estava muito atrasada. Ele, do alto daqueles olhos doces, me respondeu sorrindo: - Só a minha vida toda...

domingo, 14 de agosto de 2011

:: Era uma vez pra sempre

Era uma vez uma menina que teve o coração endurecido por palavras de pedra. Até que um dia, palavras floridas, fizeram brotar jardins de dentro dela. E esse não é o fim dessa história, é tão somente o começo dela...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

:: Primavera minha


Meus versos, teus versos
serão para sempre teus,
do último até o primeiro.
Hei de cantar tua tristeza e tua beleza,
e de tanto decantar-te amor
numa alegria contida em pranto,
teu encanto no outono há de se fazer.
Mesmo o mais frio e chão cinzento,
tua cor e teu aroma em flor hão de preencher.

:: Janelas de mim

Para quem disse que você não tinha coragem, você enfrentou a ti mesmo. Para quem disse que você não ia se levantar, você aprendeu a alçar voos como o melhor dos passarinhos. Para quem disse que o teu céu era cinza, você expôs um jardim aberto em flor. Para quem disse que teus sonhos estavam desmoronados, você reergueu cada um e se transformou. Para quem disse que seus motivos para viver eram os errados, você mostrou que tua beleza minimizou a dor do mundo.

E para mim coube, revelar-lhe a mentira. Que disse um dia que você não possuía a chave. Mas só para ti confesso amor: nunca houve chave ou portões para serem descobertos. Meu peito sempre esteve aberto para deixar tua luminosidade entrar.

domingo, 31 de julho de 2011

:: Carta aos suicidas

Quarto vazio e iluminado. E ela esperando o texto fazer sentido, esperando a vida fazer sentido. No resto da casa silêncio e escuro, cortados apenas pelo barulho de alguns carros e da luz tremulante vindos do lado de fora. Tudo o que ela queria era acreditar, mas às vezes essa é uma missão difícil pra quem perdeu tudo. Ter fé no amanhã e acreditar, no invisível e intocável do futuro, é uma tarefa doída quando não se tem nada. A cabeça dela está voltada pro passado e todos esperam que a cabeça dela esteja voltada para o presente e todos pedem que ela continue firme olhando pra frente. Mas ela tá cansada de levar sorriso fingido no rosto, cansada de esticar as mãos e não se agarrar em nada. Não adianta o quanto se esteja subindo, não há vitória no caminho que se percorre sozinho é o que ela acha. Cercada de pessoas e rostos familiares, e ela ali, sentindo-se presa aquela multidão de coisas sem sentido. Ela procura um único rosto, mas não encontra. Não há saída ou outra porta de entrada, só o vazio de uma sala cheia. Ela agora entende os suicidas, viver assim também mata.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

:: Poesia em você

Amo sua imagem refletida em mim

verso dos próximos capítulos...

:: O que ninguém sabe

Tem coisas no meu mundo que ninguém sabe, tem segredos que eu não conto nem pra mim mesma, com medo de falar alto e virar verdade.
Lágrimas que escorrem e ninguém vê. Gritos sufocados a noite que ninguém escuta. Noites de escuridão em plena luz do dia. Vazio e solidão rodeada de pessoas. Sorriso aberto, com tristeza lá dentro. Essa ausência que me preenche tanto.
Ninguém me enxerga, ninguém me vê.
Ninguém percebe que atrás desses sorrisos e olhares e bocas e roupas e lugares que me pertencem, eu não pertenço a nada.
Talvez alguns saibam lá fundo, ou quem sabe captem algum momento meu mais frágil, mas ninguém registra. Mais fácil viver na ignorância, mais cômodo. Já é difícil a gente viver a nossa tristeza, viver a dos outros então, nem pensar...

segunda-feira, 27 de junho de 2011

:: Soneto da Ausência

Vejo seu olhar perdido na cidade
Encontro o seu rosto em cada rosto que eu vejo
Mas seu perfume desapareceu assim como seus retratos
Seus cabelos já não estão mais entre os meus dedos

Minhas pernas agora já andam sem as suas
Mas minha mão nunca alcança a de ninguém
Sua falta agora trescala a toda hora
Me lembrando de encontrar ausência em vez de vida

O som da sua risada, todos os seus ruídos
Ou suas palavras desbocadas quando estava com raiva
Já não encontro, não existem mais

Não pertenço mais aos lugares que eu vou
E nem me encaixo ou me encontro mais em mim
Meu coração vazio cheio de lembranças, agora deságua por aí

domingo, 26 de junho de 2011

:: Consciência tranquila

Errar por excesso mas nunca por omissão, sempre pensei assim...
Detestaria a ideia de dormir pensando em tudo aquilo que não vivi
enquanto poderia... por medo, orgulho, inércia.

terça-feira, 7 de junho de 2011

:: Blog em novo endereço

Queridos amigos, esse blog agora virou pessoal, ainda terá alguns dos meus textos publicados, mas virou um blog mais para desabafo meu mesmo.
Todos os meus textos agora serão publicados neste novo endereço: cemrazoes.tumblr.com
Alguns dos textos que já foram publicados aqui já estão lá, aos poucos todos estarão sendo publicados novamente lá.
Obrigada a todos!
Beijos, Line.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

:: Do amor e da sua não imprudência

Eu pensava que o amor era imprudente. Hoje sei que imprudente mesmo são as pessoas.

domingo, 15 de maio de 2011

:: Céu azul

Leve o dia e fica algo. A ser pulsado, a ser mantido, a ser descoberto.
Leva o dia, mas fica algo. De você inteiro, excesso, exato.
Sei lá explicar, o som da sua risada, o sorriso do seu olho no meu olho, seu jeito de falar… tudo invadindo meu ser e fazendo vibrar.
Você me deixa boba, me deixa tonta, meio atordoada, sabe lá.
Amor, paixão, encantamento ou outro nome que já tenham inventado.
To falando daquele sentimento que o sorriso da gente não consegue evitar… que escapa pelos olhos só para encontrar o outro mais urgente.

sábado, 14 de maio de 2011

:: Da solidão

Dia triste e pesado. Nessas horas a solidão pesa mais do que todos os outros pecados.

:: Diluído em água fria

Tem certas coisas que a gente não espera e olhar a verdade pode ser doloroso. Há uma mágoa em mim profunda, um incômodo por ter defendido quem me negou, por ter acreditado em mentiras tão fáceis e em promessas tão rasas. O computador fica aqui olhando pra mim a espera de algo a ser dito, mas eu só encontro silêncio nessa vazio tempestuoso que virou a minha alma. Não há o que ser feito, rompeu, desfez...
Cansei de ser a menina com o coração partido-remendado. Não há sorrisos no meu rosto, nem orgulho no meu discurso, só há em mim agora uma constatação óbvia do impossível, de um dia eu-e-você-nós-dois.
Cansei do meu coração bater forte por coisas erradas, por notícias suas de não vou, ou não posso, por nunca ser você quando o telefone toca ou quando a campainha dispara.
Cansei da sua falta de tempo, de apego e da sua sobra de história.
Eu cansei desse "amor" diluído.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

:: Despedida

Eu disse que amava ele e que queria tentar, numa tentativa de trégua definitiva, quem sabe, dessa vez desse certo. A única coisa que ele me respondeu foi que não queria mais saber de confusões. A gente já tinha passado por muitas coisas, algumas vezes ele me magoou mais do que imagina, certa vez me deixou sem chão e outras me fez sentir dores onde parecia que o ar fugia do próprio peito de tanto que doía. Mas dessa vez foi diferente. A dor não foi profunda, ou desesperada e eu nem posso dizer que eu não esperava algo de negativo vindo dele depois de tanta coisa desencontrada, de tanta solidão a dois machucada. Mas essa dor, que não me fez perder o ar nem nada, me causou mais mal do que todas as outras e se instalou silenciosamente em mim, enquanto uma lágrima corria e eu enxugava, respirava fundo e dizia nunca mais.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

:: Se eu pudesse...

Se eu pudesse diria que sinto saudades
que teu beijo ainda não foi esquecido
Suas mãos, seu gosto, seu cheiro
Tudo isso ainda faz parte
Aqui em mim,
do que um dia você construiu e eu desisti.
Só que agora,
vejo um muro de tempo separando cada vez mais nós dois
sem eu encontrar um caminho de volta
para aquela história que um dia a gente acreditou.
Continuo não te pedindo nada,
segui porque é assim que tem que ser.
Mas se um dia você se perguntar
se eu ainda penso em ti,
saiba que é por você
que meu coração dispara.

:: Heróis

Quando a gente é pequeno a gente tem como heróis o Superman, o Batman, o Homem-aranha e tantos outros. E a gente acha que os heróis são aqueles que vencem sempre, que não erram nunca e que no final sempre resgatam com sucesso a mocinha que corria perigo. Quando a gente cresce, a gente percebe que os heróis e a vida são um pouco mais complexos do que isso. Que algumas coisas não se tratam apenas de sim ou não, de certo ou errado, de vencer ou perder. Que nossos heróis não são aqueles que a gente imaginava quando criança, mas são aqueles feitos de carne e osso, que não são perfeitos, que estão passíveis de erros e acertos, de vitórias e derrotas e que por mais que tentem, às vezes não conseguem alcançar a mocinha dos seus perigos reais.
A gente percebe que nossos heróis nem sempre podem nos salvar, que seus ultrapoderes não garantem a nossa segurança, que suas emoções humanas também nos fere, que nem sempre fazem coisas brilhantes ou extraordinárias.
Nossos heróis, tantas vezes anti-heróis, não se referem aos semi-deuses no céu ou aos homens comuns presos à terra. São aqueles que nos fazem voar, não por terem capas, mas por terem asas para ir além.

Ao meu grande herói, papai.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

:: Janela das desiluões

Me faltou coragem. Coragem pra prosseguir e coragem pra ficar. Ter você aqui machucava, mas não ter você parece que machuca mais. Eu andei sorrindo mentiras por ai, não com a pretensão de te enganar, porque sei que isso não seria possível, mas com a vontade de enganar a mim mesma. Tenho raiva de você por isso, você parece ser o único capaz de me ler tão bem, a ponto de chegar na frente de mim, a ponto de conhecer todos os meus ataques e todas as minhas defesas. Mas mesmo isso não foi capaz de me manter por perto, como alguém que teria a chance de ter tudo, desperdiça isso a ponto de me deixar partir? Você nunca perde pra mim, e eu nunca ganho pra você, nunca há vitória entre nós dois. Depois disso eu espalhei mais sorrisos por aí, pra ver se um deles prendia alguém no fundo dos meus olhos. Não funcionou. Eu não consegui. Esse meu jeito de querer tudo insanamente perfeito, me atrapalha. E eu sempre atropelo as coisas. Parece que você era o único capaz de aceitar isso, mesmo nunca tendo me compreendido de fato.

E tudo isso não se trata de uma confissão, ou um pedido de volta, é só o meu desabafo de uma noite fria e silenciosa. Que sei também que você pensa e lembra de mim, do nosso jeito errado, a gente sempre deu certo. Ruim sentir essa sensação de vazio e solidão, mas ainda sou uma apenas. Pior quando éramos nós dois e ainda sim, era uma pessoa só, e essa sensação vinha do mesmo jeito que vem agora. E esse uma não é de artigo indefinido, apesar de tanta coisa indefinida entre nós dois por ora.

Desculpa a franqueza indelicada que eu trato das coisas, delicadeza pode fazer parte dos meus gestos, mas nunca fez parte das minhas palavras ou boca... É que uma hora o coração cansa de encontrar frestas ao invés de portas.

segunda-feira, 28 de março de 2011

:: Não caber é caber

E assim, com muita dor, eu vou embora. Não quero baixar minhas expectativas a ponto de caber nos sonhos pequenos de alguém. Quero alguém que de tão grande, não caiba neles.

terça-feira, 22 de março de 2011

:: Rascunho

Não há outro jeito quando se trata da verdade. "Continue aguentando firme" foi o que ele disse a ela sem lhe estender a mão. As palavras finais do poeta sem gestos. E o sorriso dela antes iluminado, agora era só um traço de aceitação com um pouco de cansaço. Ela sempre fora asas. Ele, pássaro aprisionado no seu próprio ser, querendo fazer verão. Ela voava, ele não.

E assim ela foi embora... Ver sentido em outras coisas, buscar outras bocas, quem sabe outros braços... Bocas que falam e braços que se entregam. Palavras primeiras de poeta com gestos. Que o "aguente firme" seja dito apenas como o complemento de "aguente firme meu amor, já estou chegando aí".

quinta-feira, 17 de março de 2011

:: Rainha do mundo

Dona dos meus passos e traços,
dona do meu destino e fracassos,
ela me levou a lugares que eu jamais pensei.
Me mostrou e me ensinou coisas que eu detestei.
Me fez conhecer a toda a gente,
tentou me adequar a todos eles,
conheci com ela os anjos e demônios.

Me fez chorar feito criança,
rir como um palhaço,
sonhar como uma louca,
amar feito uma puta,
rezar como uma santa!

Entorpeceu a minha cabeça,
quebrou e colou meu coração,
virou as minhas noites,
perdi e ganhei minhas manhas e manhãs.

Senhora do meu juízo,
lira da minha inspiração,
Gaia de toda a minha perdição!

Nau de toda gente a guiar.
Nau de toda gente a encontrar.

A última, a derradeira,
que sempre me acompanha...
Maldita Esperança!

quinta-feira, 10 de março de 2011

:: Alma gêmea

De palpável restou pouco. Mesmo com uma vida inteira do seu lado para contar. Parece que quanto mais se vive menos se tem para se dizer. E as lembranças não são suficientes para preencher o silêncio de uma vida sem você. Na verdade, sua ausência preenche de silêncio o meu vazio.
Chove agora e o cheiro da chuva invade o meu quarto pela janela, à meia luz escrevo coisas sem nexo no enorme sem-sentido de querer que as coisas façam, ganhem sentido.
A minha memória prega peças que eu não queria ter, ela falha e peca, mas meu coração não erra, não me deixa esquecer.
Sobrou em algum móvel antigo vestígios da sua vida por aqui. O armário de roupas sem suas coisas aumenta ainda mais os meus fantasmas. O mesmo que eu guardo alguns dos seus tantos casacos só porque guardavam seu cheiro, que já se foi há tanto tempo... restando só o pó e o cheiro de mofo nas coisas. Mas que eu ainda sim eu guardo por capricho de ter algo seu. Mesmo que toda minha existência seja eternamente sua, mesmo pertencendo a mundo diferentes agora, mesmo que estejamos separados pelo tempo, pela vida, pela morte, você sempre será minha e eu sempre serei seu.

:: Eternamente você

E o tempo não para...
O tempo que, aos poucos, vem jogando fios brancos nos cabelos e na barba
Que nos obriga a usar óculos e a andar de mãos dadas
Aquele que nos impôs a buscar novas maneiras para entender
O tempo que foi longo ou que foi curto demais para esquecer
Ou que tudo isso depende só da nossa maneira de ver
Aquele que nos ensinou a viver
E a amar

Quanto tempo mais?

Eternamente...

:: Ponto de chegada

Eu caminhei tanto e agora me vejo voltando ao meu ponto de partida. Mas não é como se eu tivesse perdido meu tempo, como em tantos outros casos: eu voltei só para te buscar meu amor.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

:: Doce dezembro

Não me venha com seu amor fora de época
Como uma fruta que parece mais saborosa por estar fora da estação
Que ainda sim eu sentiria o fel amargo dos teus lábios junto aos meus
Pois das cem-razões e des-razões do teu eu encantado junto ao meu, eu já conheço bem...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

:: Deixa assim

É muito cedo para dizer qualquer coisa
E muito tarde para fazer algo
Deixa nossa história assim, com esse ponto final
Que por mais que tenha espaço para um novo parágrafo
Eu não tenho coração para um outro fim

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

:: Sempre Haverá Nós Dois

Não há mais nós dois. Nunca haverá de novo.
Não é por ninguém, nem vou mentir e dizer que é por mim.
É por você, e só.
Pelo seu jeito displicente, seu cabelo desgrenhado, seu sorriso fácil,
seu jeito de me olhar assim meio de lado.
Pelas suas mentiras doces que um dia eu gostei tanto de escutar.
Pela sua mania de querer me agradar, de querer me consertar,
de querer juntar em mim cada pedaço quebradiço de você.
De olhar no seu olho e me enxergar,
não porque o meu reflexo bate a luz dos teus olhos,
mas porque nos temos um no outro.
Há mais de nós dois. Sempre haverá de novo,
Porque o que verdadeiramente nasce,
não fenece com o tempo, nem morre tampouco.

:: Castelo de Cartas

Ela entrou no banheiro e ligou o chuveiro.
Enquanto a água escorria pelo ralo, suas lágrimas escorriam pelo rosto.
Ninguém a ouviu chorar, mesmo no seu soluço alto, abafado pelo barulho d'água.
Muito menos a viu chorar. Ninguém a via de fato.
E assim, ela voltou ao seu lugar.
Ao seu papel de menina com o sorriso perfeito,
com seu castelo impenetrável de cartas de contos de fadas.