segunda-feira, 27 de setembro de 2010

:: Rua da Desilusão

Tranquilidade, Silvana Violante


"Desculpe, volte amanhã para o amor" dizia uma placa de madeira presa em uma porta qualquer, na Rua da Desilusão.

domingo, 26 de setembro de 2010

:: Cale-se

Onde encontrar o cálice da felicidade
ou só beberei o da tristeza?
Tal qual néctar puro de uma rosa
que aos poucos foi se transformando
num amargo fel.
Mas enquanto houver vida, viverei
para amá-la e se preciso morrerei.
Morrerei lutando contra uma saudade atônita
que deixastes, que devorará o meu ser em frágeis
gotas de lágrimas que morrerão nos teus lábios
que aqui jazem.

sábado, 25 de setembro de 2010

:: O Nascimento de Vênus



O Nascimento de Vênus, Sandro Botticelli

"[...] Ver não é o mesmo que olhar, assim como ouvir não é o mesmo que escutar. Ver envolve apenas o esforço de abrir os olhos; olhar significa abrir a mente e usar o intelecto. Olhar uma pintura é como partir para uma viagem - uma viagem com muitas possibilidades, incluindo o entusiasmo de compartilhar a visão de uma outra época. Como qualquer viagem, quanto melhor a preparação, mais gratificante será a expedição." Robert Cumming in Para entender a arte.


Essa pintura datada da época de 1485 foi a primeira pintura renascentista com um tema mitológico, na época os grandes artistas retratavam apenas cenas bíblicas e/ou religiosas, essa pintura revolucionou sua época.
Botticelli pintou a chegada de Vênus - ou Afrodite - seguindo à risca o que narra Homero em Hino a Afrodite, onde ela chegara à ilha de Citera, onde nasceu no mar. Conta a lenda que Vênus desembarcou de sua concha na ilha de Citera e depois para a ilha de Chipre. Ela é considerada a deusa da fecundidade, sob seus passos a natureza florescia, as flores germinavam. Mais tarde passou a ser venerada também como a deusa do amor em todas as suas manifestações: desde o mais puro sentimento amoroso até o amor erótico.
Reparem que a obra pode ser dividida em três partes: com Vênus ao centro , com a ninfa à direita e Zéfiro e Flora à esquerda.

A área da direita é denominada pela ninfa Hora, que recebe a deusa. Ela traja um vestido branco, bordado de flores entrelaçadas representando a primavera - época de renascimento e renovação da natureza. A ninfa carrega na cintura um ramo de rosas e em torno dos ombros uma guirlanda de mirta verde, símbolo do amor eterno. Hora ainda carrega a veste preparada para a deusa do amor que está enfeitada com flores primaveris. A primavera é a estação dedicada a Venûs - é a época dos amores.

A área da esquerda é dominada pelo casal Zéfiro e Flora, os ventos que sopram a concha em direção à margem. Zéfiro é o vento do oeste. Ele é a brisa suave da primavera e aparece abraçado à esposa. As rosas vistas neste lado da tela são sagradas e foram criadas simultaneamente ao nascimento de Vênus, daí serem o símbolo do amor: as rosas são flores delicadas, mas com os espinhos, para lembrar que o amor também fere.

Minha pintura favorita da época do Renascimento. Ler e entender sobre a arte tem me ajudado muito a entender e interpretar a própria vida, com um olhar mais crítico e apurado e ao mesmo tempo, não menos filosófico.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

:: Sem sentir

Queria poder dizer que já amei mais que tudo, que já acreditei em felizes para sempre, que já disse eu te amo pra todo sempre. Queria ter podido sentir um fim de relacionamento, de chorar cada lágrima ao ouvir uma música, até não restar nenhuma pra contar em tristeza e dor o fim de um grande ou verdadeiro amor. Queria ter tido a sensação de ter velado o sono de alguém durante a noite e rezar bem baixinho agradecendo por aquele homem ou aquele momento. Queria ter sentido o que só se sente na alma, o que só com os olhos se diz e o que com palavras não se expressam. Queria ter acreditado em tanta coisa, queria ter sentido tantas outras... Mesmo que a vida sempre tenha me doído, sempre a tenha sentido lá no fundo, em espasmos e dores, em alegrias e volúpias, nesse grande palco de encontros e desencontros que a vida é, eu nunca senti o prazer doloroso, de amar louca e verdadeiramente alguém.




Losing My Religion (Perdendo Minha Religião) R.E.M na versão da Anouk

A vida é maior
É maior do que você
E você não sou eu
Os extremos que eu irei até
A distância em seus olhos
Oh, não, eu disse demais
Eu causei tudo isso
Aquele sou eu no canto
Aquele sou eu sob os holofotes
perdendo minha religião
Tentando me igualar a você
E eu não sei se eu consigo fazer isso
Oh, não, eu disse demais
Eu não disse o suficiente
Eu pensei ter ouvido você rindo
Eu pensei ter ouvido você cantar
Eu pensei ter visto você tentar
Cada sussurro
De cada hora acordado, estou
Escolhendo minhas confissões
Tentando ficar de olho em você
Como um bobo magoado, perdido e cego
Oh, não, eu disse demais
Eu causei tudo isso
Considere isto
A dica do século,
Considere isto
O deslize que me deixou
De joelhos, fracassado
E se todas essas fantasias
Viessem nos rodear?
Agora eu falei demais
Eu pensei ter ouvido você rindo
Eu pensei ter ouvido você cantar
Eu pensei ter visto você tentar
Mas aquilo foi apenas um sonho
Aquilo foi apenas um sonho

terça-feira, 21 de setembro de 2010

:: É preciso

Para conhecer o calor do sol é preciso antes ter conhecido o vento frio no rosto
É preciso de uma grande queda para se levantar forte e rumo ao alto
É preciso perder a fé para aprender a confiar de novo
E é preciso conhecer o caos para aprender o que é a paz

É preciso ter visto o escuro para aprender a enxergar a luz
É preciso ter conhecido o ruim e o feio para reconhecer o belo
E é preciso o desespero para encontrar a tranquilade
É preciso de algemas para se dar valor a liberdade

É preciso haver separação para haver união
É preciso errar para aprender o que é certo
E é preciso haver a perda para encontrar algo
É preciso ir a lugar algum para encontrar o caminho

É preciso não ser para aprender a ser
E é preciso ter dois para ser um
É preciso menos para ser mais
É preciso fazer para acontecer

domingo, 19 de setembro de 2010

:: Protagonista de mim

Aceite da vida o que ela tem de ruim e de belo
Não importa na verdade aonde você chegará
Não importa muito aonde e quanto tempo leve
Só queira ir em frente sempre

Não limite-se por medo
Por perdas passadas
Por sofrimentos imagináveis
Não importa o que aconteça

Os caminhos nem sempre são seguros
As respostas nem sempre são as mais claras
As coisas nem sempre são do jeito que se espera

Não importa
Prefira ser o autor da sua própria vida
Protagonista de si mesmo, do que um mero espectador da própria história

sábado, 18 de setembro de 2010

Os Cegos do Castelo - Nando Reis



Eu não quero mais mentir
Usar espinhos que só causam dor
Eu não enxergo mais o inferno que me atraiu
Dos cegos do castelo me despeço e vou
A pé até encontrar
Um caminho, o lugar
Pro que eu sou
Eu não quero mais dormir
De olhos abertos me esquenta o sol
Eu não espero que um revólver venha explodir
Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar
Foge o destino do azar
Que restou
E se você puder me olhar
E se você quiser me achar
E se você trouxer o seu lar
Eu vou cuidar, eu cuidarei dele
Eu vou cuidar
Do seu jardim
Eu vou cuidar, eu cuidarei muito bem dele
Eu vou cuidar
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar, e de você e de mim

:: Como o fogo

Sou como o fogo
Tudo em mim arde, tudo em mim queima
Tudo se acende e tudo esquenta
Sou como a chama
Que se consome rápido e incendeia
Quente, vibrante, viva

:: Do jeito certo

É como fechar os olhos para ver-te
Onde todos os meus sentidos se aguçam para buscar-te
Assim louca, assim trôpega, assim lânguida
Eu do meu jeito errado certeiro de te amar

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

:: Carolina - Caetano Veloso




Carolina

Carolina
Nos seus olhos fundos
Guarda tanta dor
A dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei que não vai dar
Seu pranto não vai nada mudar
Eu já convidei para dançar
É hora, já sei, de aproveitar
Lá fora, amor
Uma rosa nasceu
Todo mundo sambou
Uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo
Pela janela, ói que lindo
Mas Carolina não viu
Carolina
Nos seus olhos tristes
Guarda tanto amor
O amor que já não existe
Eu bem que avisei, vai acabar
De tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor
Uma rosa morreu
Uma festa acabou
Nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela
O tempo passou na janela
Só Carolina não viu

terça-feira, 7 de setembro de 2010

:: Amor primeiro

Lembro de ficar sentada aqui, nessa mesma varanda com você, ouvindo o barulho da chuva, vendo as árvores do jardim da frente dançarem bem à nossa frente, de ouvir os sons dos ventos e de imaginar os seus segredos, dos raios caindo atrás das montanhas e do seu jeito de me segurar firmemente. Da sua voz doce sussurrando aos meus ouvidos coisas das mais inapropriadas, dos momentos à meia luz no nosso quarto enquanto você me amava gentil e incansavelmente. Ou dos seus rompantes de romantismos a qualquer hora e ocasião do dia.
Lembro de ficar sentada aqui olhando o rio passar, esperando você acordar e me abraçar por trás da cadeira e me beijar a testa; da sua cara de assustado quando dizia que me amava mais que a própria vida; do seu sorriso travesso de criança; do seu cheiro à flor da pele minha; da beleza da nossa ingenuidade de acreditar em tudo isso.
Lembro de acreditar que juntos poderíamos mais, que nosso amor poderia nos levar além, além de tudo e de todos; e que sempre estaríamos juntos não importasse o tempo ou as situações que a vida nos impusesse.
Lembro do pinheiro do quintal de trás, que guardava nossos segredos; onde juntos gravamos nossos nomes dentro de um coração; onde deitados debaixo dele, fizemos juras de amor incondicional e de entrega, sob os olhares atentos dos céus estrelados e das noites intensas.
Lembro de tudo como se fosse hoje, seu beijo, seu amor, seu colo, seu cheiro... mesmo tendo se passado tanto tempo, mesmo tendo se quebrado tantas ou todas as promessas, mesmo que o amor nos tenha separado com o tempo, mesmo com as juras desfeitas, mesmo que a vida nos tenha levado a caminhos diferentes daquele que esperávamos, mesmo tudo tendo saído errado no fim das contas...
Valeu cada choro; cada lágrima; cada tristeza e lástima; cada entrega ou jura; cada sorriso; cada coisa; cada sonho. Só porque foram vividos com você... meu amor, primeiro.

:: Sobre as mudanças

Às vezes a gente quer desesperadamente que algo maravilhoso aconteça ao nosso redor,
quando a mudança verdadeira tem que começar de dentro pra fora, da gente para com a gente mesmo.
Não esperem que venham te salvar, ninguém aqui tem essa missão.
Faça sua parte e só.
O resto é por conta das circunstâncias.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

:: Reticência

Não temos nada,
apenas os pés descalços sobre a areia fina.
Nossas preocupações e medos
ficaram atrás da porta junto com os nossos sapatos.
Mas temos pés,
então andaremos com calma e paciência
um passo de cada vez,
construindo a nossa estória
e novas trilhas.
Está tudo azul e sincero agora,
finalmente em harmonia
e ao nosso alcance.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

:: À você irmã querida

Gigi,

Nossa, é até difícil escrever pra você... a gente já passou por tanta coisa... tantas coisas juntas, tantas separações, tantas coisas boas e tantas outras ruins.
Nós brigávamos feio, e feio é pouco pro que a gente brigava! Era porrada mesmo... Com direito à cabo de vassoura, porta de armário, pedras, sapatos de salto alto, garrafas de vidro, pisadas na cabeça, gessos quebrado na cara... Seja lá o que for que tivéssemos na mão. Parece até meio perverso, mas no fundo era engraçado. Dois minutos depois estávamos nós, brincando, como se nada tivesse acontecido.
Nossa infância foi conturbada, muita coisa foi difícil pra gente, muita coisa nos magoou, tivemos muitas perdas, ficaram muitas marcas... Nós poderíamos ter escrito uma história triste hoje, mas não foi o que aconteceu. Nós conseguimos passar por tudo, não saímos ilesas é verdade, mas saímos fortes, maduras, sensíveis.
Com o tempo veio a sabedoria e, aprendemos que cada um de nós, tem um tempo certo aqui pra aprender as coisas... E que por mais que quiséssemos, por mais que tentássemos mudar as coisas ou as pessoas ao nosso redor, elas não mudaram simplesmente só pelo nosso desejo, pelo maior e mais profundo grito de nossas almas.
Tão pequenas, tão inocentes, mas tão exigidas pela vida. Nos impuseram a crescer e a entender o que não era compreensível.
Irmã, nessa tortuosa estrada que vivemos, separadas pelas circunstâncias, mas unidas pela dor e por nossos corações é que aprendemos a amar, a crescer, a viver... E principalmente, a perdoar.
Tenho muito orgulho do que nos tornamos, mesmo que a vida ainda insista em nos derrubar...
Mesmo distante fisicamente, que bom que hoje a tenho do meu lado, mais do que nunca, mais do que sempre.
Sua força hoje me fez acreditar, de novo.