terça-feira, 26 de outubro de 2010

:: Queijo com goiabada

Sou criança. Cresci assim, acreditando em contos-de-fada e em finais felizes. Gosto de brincar, procurar desenho em nuvem e descobrir em cada coisa pequena uma alegria enorme e que satisfaz. A cara amarra de contrariedade. Os olhos pequenos de felicidade. O sorriso grande de ingenuidade. Sou assim. Não entendo o mundo das pessoas grandes, com suas correrias, paranoias e preocupações. Ainda mais quando eles se comportam como gente pequena, não de idade ou de tamanho, mas aquele outro tipo de grandeza.

O mundo pra mim sempre foi grande, mesmo brincando de cabaninha dentro da minha casa. O importante são os nossos sonhos, a nossa imaginação. O que a gente leva dentro da gente e só. Não entendo porque os adultos perdem a capacidade de sonhar, é tão fácil. Você tem uma ideia, imagina e pronto! Ali está ele pronto pra se começar a acreditar. Às vezes o céu é cinza e a nuvem escura, mas existe a aquarela, feita de amor e sonhos, pra pintar em cor e alegria o horizonte da gente. Ainda tem o arco-íris, que foi feito pra lembrar que mesmo na chuva o céu pode ser colorido.
Tenho um coração maior do que eu, nunca sei minha altura, mas não importa, vivo querendo crescer mesmo. Mesmo que um dia eu chegue lá no alto e veja o mundo bem pequenininho e as pessoas como formiguinhas, quero continuar enxergando todo mundo bem grande. Você sabe, nunca é uma questão de altura.

Tenho um monte de medo, mas coragem também. Um dia minha mãe me ensinou que não é coragem se não tiver medo. Que vale a pena andar de bicicleta, mesmo que a gente caia no início e rale o joelho. E que a prática sempre leva a perfeição. Ela me falou também pra sempre ouvir e respeitar os mais velhos, mas que isso não significava que eu precisava concordar com eles. Me explicou que conselho todo mundo tem pra dar, mas pra ter cuidado de quem vinha. Ela falou “você sabe minha filha, os adultos sempre acham que sabem de tudo, e nunca sabem de nada. Que a tristeza e o erro deles nunca sejam os seus”. Ela sempre me entendia, sempre foi criança como eu.

Enxergo o mundo assim: aos olhos arregalados de uma criança, onde o mundo é tão grande, tudo é tão colorido, porque tudo me parece sempre tão novo e tão bonito, que eu acabo me distraindo.
Mas criança é assim mesmo, brinca, pula, salta, chora, adoece, fica com raiva e amanhã esquece. Não liga pra embrulho, laço de fita ou preço. Coisa pouca faz feliz.
Me dê um chocolate, um bilhete, uma ligação inesperada, uma visita fora de hora, tudo fora de regras e medos, fora de moda e preceitos. Assim, como goiabada e queijo: simples, mas gostoso.

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